terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Pensamentos e Poesias

Em breve será lançado o livro : "Olhar negro " com pensamentos e poesias de Carla Gomes 



NÃO VOU FALAR
(Autora: Carla Gomes)

Não vou falar de dor, nem de luta, nem de tristeza,
nem de trajédia,  nem de injustiça, nem de perda,
nem de pranto, nem de guerra, nem de morte e nem de fome
...
Os meus antepassados  
já representaram muito bem tudo isso.




DESCANSO DO NEGRO
(Autora: Carla Gomes)

Dos porões fétidos dos navios
O jogo começava 

Ouve-se a voz da capoeira
Mas o jogo não parava

Seu destino não pode escolher
Sufocado num grito de revolta
O capoeira gritava, ie !

Mas o jogo continuava.

E era num rompante
Que o negro fugia
Não era por covardia
É que nem a própria dor suportava
O tanto que o negro sofria

De hoje esse negrinho não passa !
Ele vai ter que me pagar
Já decidi o seu destino
Vai morrer de tanto apanhar.

E a morte abraçou o negro
Com um olhar brando e manso
Pro branco era vingança
Pro negro era descanso.



PRECONCEITO VELADO
 (Autora: Carla Gomes)

Hoje é fácil falar de igualdade, difícil mesmo é se sentir igual em um mundo de lobos com pele de carneiro, onde o preconceito grita e tem seu grito abafado pelo som hipócrita do 20 de novembro. Aonde a consciência reside apenas na cabeça de poucos negros que insistem em não frustrar a memória de Zumbi.


CORPO DE UMA NEGRA
(Autora: Carla Gomes)


O corpo de uma mulher negra
Não se detêm nas curvas, das mentes turvas
Nem na ânsia, de quem valoriza a protuberância
E nem mesmo no seu gingado, carregado, de elegância,

O corpo de uma mulher negra,
Não se compõe com um andar, que ofende as beatas
Nem se reduz nas mamas fartas,
Não se prende a um olhar encantador,
E menos ainda, num sorriso sedutor,

O corpo de uma mulher negra
É estabelecido, pela alma
Que hora é tsunami,
E hora é brisa calma

Não se abate aos grilhões
Luta, briga, grita, aguenta
Não se entrega nos primeiros pontos
E não chora quando a dor aumenta

Não deixa um dos seus, ferido na guerra
Volta e pega. Aos tapas ou negocia
 Enxuga as lágrimas com a costa das mãos
Pra renovar suas energias

Divide até o que não tem
Não deve nada à ninguém
Faz guerra em tempos de guerra
E faz amor quando lhe convém  

O corpo de uma mulher negra
É sagrado, é imortal
Para alguns abutres e loucos
Mero símbolo sexual


Mas o corpo de uma mulher negra
É feito de alma
É a casa de uma guerreira, que não conhece fronteira
Quando tem um ideal.

Nenhum comentário:

Postar um comentário