NÃO VOU FALAR
(Autora: Carla Gomes)
Não
vou falar de dor, nem de luta, nem de tristeza,
nem
de trajédia, nem de injustiça, nem de
perda,
nem
de pranto, nem de guerra, nem de morte e nem de fome
...
Os
meus antepassados
já
representaram muito bem tudo isso.
DESCANSO
DO NEGRO
(Autora:
Carla Gomes)
Dos
porões fétidos dos navios
O
jogo começava
Ouve-se
a voz da capoeira
Mas o
jogo não parava
Seu
destino não pode escolher
Sufocado
num grito de revolta
O
capoeira gritava, ie !
Mas o
jogo continuava.
E era
num rompante
Que o
negro fugia
Não
era por covardia
É que
nem a própria dor suportava
O
tanto que o negro sofria
De
hoje esse negrinho não passa !
Ele
vai ter que me pagar
Já
decidi o seu destino
Vai
morrer de tanto apanhar.
E a
morte abraçou o negro
Com
um olhar brando e manso
Pro branco era vingança
Pro
negro era descanso.
PRECONCEITO
VELADO
(Autora: Carla Gomes)
Hoje
é fácil falar de igualdade, difícil mesmo é se sentir igual em um mundo de
lobos com pele de carneiro, onde o preconceito grita e tem seu grito abafado
pelo som hipócrita do 20 de novembro. Aonde a consciência reside apenas na cabeça
de poucos negros que insistem em não frustrar a memória de Zumbi.
CORPO DE UMA NEGRA
(Autora: Carla Gomes)
O
corpo de uma mulher negra
Não
se detêm nas curvas, das mentes turvas
Nem
na ânsia, de quem valoriza a protuberância
E nem
mesmo no seu gingado, carregado, de elegância,
O
corpo de uma mulher negra,
Não
se compõe com um andar, que ofende as beatas
Nem
se reduz nas mamas fartas,
Não
se prende a um olhar encantador,
E
menos ainda, num sorriso sedutor,
O
corpo de uma mulher negra
É
estabelecido, pela alma
Que
hora é tsunami,
E
hora é brisa calma
Não
se abate aos grilhões
Luta,
briga, grita, aguenta
Não se
entrega nos primeiros pontos
E não
chora quando a dor aumenta
Não
deixa um dos seus, ferido na guerra
Volta
e pega. Aos tapas ou negocia
Enxuga as lágrimas com a costa das mãos
Pra
renovar suas energias
Divide até o que não tem
Não
deve nada à ninguém
Faz
guerra em tempos de guerra
E faz
amor quando lhe convém
O
corpo de uma mulher negra
É
sagrado, é imortal
Para
alguns abutres e loucos
Mero
símbolo sexual
Mas o
corpo de uma mulher negra
É
feito de alma
É a
casa de uma guerreira, que não conhece fronteira
Quando
tem um ideal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário